terça-feira, 20 de julho de 2010


É incrível como a personalidade das pessoas se dissolve até nas minúcias aparentemente banais; pois foi na sutileza de pentear meu cabelo para trás que aprendi a diferença entre você e os outros. Você sempre penteava meu cabelo para trás. Não parecia notar que eu preferia repartido no meio, simplesmente penteava para trás apressadamente como fazia com o seu próprio. Me olhando no espelho eu achava esquisito, mas acabava gostando porque era o seu toque especial. Me fazia perceber que apesar de não atentar para as minhas preferências você então imprimia em mim sua própria preferência compartilhando seu penteado predileto, e isso me trazia uma felicidade nova. Era o seu toque especial, o seu penteado. E é claro que quando você maquinalmente me penteava apressado você não poderia imaginar o que me imprimia. Mas hoje quando eu estava no cabeleireiro e ele acidentalmente penteou meu cabelo para trás lembrei você e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sei, já faz treze anos que você morreu. Mas era o seu toque especial.

sábado, 17 de julho de 2010

As pessoas com quem decidimos nos relacionar são artifícios para o autoconhecimento. Sem demerecê-las - um caso em que o artifício é essencial. É como explicitar (x+y)² em x²+2xy+y² sendo que nunca alguém nos dará o valor das variáveis e nos perguntaremos que raios fazer com isso. São aquele 2 pelo qual multiplicaríamos a primeira equação
para desvendarmos nossos mistérios latentes materializados em incógnitas e que no final o artifício vira parte da equação e faz tão parte dela que nem lembramos mais de que se tratava de um artifício nem de como ele surgiu. Na verdade o que acontece é que cada um traz consigo suas próprias variáveis e quando nos damos conta temos também z,r,s e ainda que descubramos x=-4 e y=-5/3 isso já virou obsoleto e nem faz mais diferença.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Faz um tempo venho lembrando-me de ti. Passados tantos anos - como pude te esquecer por tantos anos? Recobrada a razão, tu reapareces de orelhas coladas no meu ventre que há de inchar. Depois somes, e te procuro também no beijo de rosto molhado demais que me deste no supermercado logo após ter perguntado meu nome – eras tu? Não suporto estas ilusões. Tu és sempre quem virá, mas tu nunca chegas. Quando deito na cama tarde da noite, satisfeita na solidão de te esperar, me pergunto se os terremotos no caminho acaso separaram meu chão do teu.