domingo, 8 de agosto de 2010

Dia dos Pais


Entrei no meu quarto com uma vizinha, meus olhos inchados e doloridos de tanto chorar, mas ainda tão confusa – em nenhum momento deixei de ficar confusa desde então. Liguei a luz e tudo estava perfeitamente arrumado e tão vazio. Tão vazio. Trazia em minhas mãos flores alaranjadas que colhi no pátio porque me disseram para escolher as mais bonitas para você. Eu achava que se colhesse as minhas preferidas você saberia que eram minhas. Então entrei no meu quarto para lhe escrever uma carta que lhe dissesse o quanto eu o amava, não como as outras que já lhe havia entregado tantas vezes chamando você de amado e idolatrado porque eu estava aprendendo o hino do Brasil e achei bonito, não como essas, uma mais séria e definitiva, porque me disseram que colocariam no bolso do seu paletó. Eu estava chorando tanto, mas era tão urgente demonstrar ainda mais uma vez, a última vez, que amava você tanto, tanto, mas ainda reclamar que você mentiu e não ficou velho. Olhei em volta procurando um papel de carta bonito e então enxerguei um lápis com um peixe de borracha na ponta, você quem me deu. Então solucei tanto e alguém veio me dar um copo de água com açúcar de novo e um remédio, mas é que ninguém poderia entender, foi seu último presente. E eu não tinha gostado do presente, achei o peixe feio, mas eu não teria coragem de lhe dizer tampouco reclamar, foi um presente tão simples mas com tanto amor. Eu não tinha gostado do presente, me senti tão culpada, seu último presente. Um bom tempo contemplei o peixe de borracha, e foi a última vez que o vi. Partimos de madrugada para outra cidade e deixamos aquela casa cheia de você para sempre. Porque você nos deixou para sempre.