terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dos cacos.




Os vidros estilhaçados aos berros hoje ali, em cima do muro que nos separa. Pontudos, transversos, linha de frente – avança e te rasgo toda. Até o osso. Até a alma. Guardaria porém nas arestas sangrentos restos da tua carne – exemplo cruento concreto indiscreto do meu aviso prévio. Rejubilar-te-ias na minha punição, tu que adoras te jogar aos vidros. Caminharias, então, para longe, o sangue coagulado grudado na pele, satisfeita. Estás sempre ali, em contemplação, desejosa de mais dor. Certa vez contemplavas em regozijo o efeito reluzente daquilo que já foi vaso de flor. “Os vidros quebrados podem compor um vitral”, disseste, como se entendesses de vidros. Logo tu que nunca foste transparente.

(o vidro se estilhaçou aos berros, senhora, e eu não sei pintar vidro, não entendo de vitral. Mas sei construir muros. E tu sabes passar dos limites.)