segunda-feira, 14 de novembro de 2011

2003



Era uma noite de lua nova e vento gelado. Saí para o pátio do convento, envolta em uma atmosfera algo misteriosa. Havia muitos conhecidos e desconhecidos lá, reunidos. Recém havíamos jantado, e tinha início a programação noturna – que nada tinha a ver com as irmãs do convento, que apenas nos cederam aquele espaço incrível. Lá fora havia um gramado, uma área muito grande. Mais adiante estavam muitas árvores e uma floresta fechada. O silêncio preenchia a alma, as estrelas no céu eram muitas – todo o encanto de um lugarzinho no meio do nada. Ao aproximar-me dos outros, me foram passadas as instruções. Deveríamos ficar em fila, adultos e adolescentes, misturados, colocando uma das mãos sobre o ombro de quem estivesse em frente a nós.
- Vocês caminharão em linha reta – disseram. De olhos fechados. Haverá uma área em declive, vocês precisam descer devagar. Ao final, chegarão a uma clareira, onde ascenderemos uma fogueira. No percurso, algumas pessoas estarão lá cuidando para que não se desviem do caminho. Não é permitido abrir os olhos até chegar à clareira.
Coloquei as mãos sobre o ombro do seguinte. Os primeiros passos foram cambaleantes, mas tentei não abrir os olhos. Quando os tênis começaram a resvalar no declive, vez ou outra alguém tocou meu ombro livre me recolocando na linha certa. Parecia um caminho estreito, de mata fechada. Os grilos cantavam e pairava um cheiro doce e úmido de mato e terra. Após tantos minutos que não sei precisar, abri os olhos. Uma fogueira enorme iluminava uma pequena clareira. Tirei os tênis e sentei. Alguém me emprestou um cobertor, que coloquei em cima dos ombros. Me sentia muito bem. Era como se tudo aquilo me levasse a algo mais perto de alguma verdade profunda antes ignorada. Ao redor da fogueira, em silêncio, na noite fria e ventosa, uma paz me habitava. Um amigo começou uma massagem nos meus pés, e falamos sobre confiança. Todos falaram sobre confiança. Quantas vezes se pode confiar em alguém assim, de olhos fechados?

Um comentário:

Bruna K. disse...

curtir.