sábado, 2 de agosto de 2008

Da Escada

Era mesmo curioso que, já no primeiro dia juntos (ou na décima sétima hora desde que se encontraram no dia do primeiro beijo), ao descer as escadas do prédio dela, ele com aquela cara de sono de quem ouviu o DVD do Abba rodar mais de dez vezes durante a madrugada... Ao descer as escadas do prédio dela, antes mesmo que ele pisasse em falso, ela ordenara, rápida: - Tira as mãos dos bolsos. E ele, nem tão rapidamente, mas firmemente decidido, fez o que ela pedira, confuso, sem compreender. Então, depois da descida silenciosa, os pés ganhando plenamente o último e definitivo chão... Então ela disse, sem olhar para ele, séria: - Agora pode colocar de volta, se quiser.

Porque, frente a uma escada, ela aprendera a associar vertigens, corpos tombando e escoriações (que só saravam com casamento, porque beijinho virara paliativo há anos). E era preciso prevenir-se, ter as mãos livres para evitar a queda.

Um verdadeiro presságio aquele episódio. Porque,semanas depois, o temor da queda tornou-se tanto, que vinha transformando cada degrau num parto. Empacados no degrau, olhavam-se, discutiam. “Será que vai dar certo?”.

“Vamos devagar”, ela disse. Porque meter pés por mãos é perigoso, tanto mais em escadas.

Um comentário:

André disse...

Na falta de idéia mais criativa, direi apenas o que é óbvio: teus textos são MUITO bons. Sério. Mesmo. De verdade.